
Na essência, o Charlie Brown Jr. ainda é o mesmo. O rock com pitadas de rap, ora com uma levada mais reggae, ora com um peso maior na batida estão ali, mas de uma forma diferente. Na faixa de abertura de Camisa 10 Joga Bola Até na Chuva, Chorão já não grita, não rapeia, não fala. Canta ``de boa``, como ele mesmo diz. A guitarra de Thiago Castanho está bem distorcida. A banda aventura-se pelo hard rock. Me Encontra, single desse 10º disco, tem uma simplicidade que, com duas semanas depois de lançada, já ocupa os primeiros lugares nas paradas radiofônicas. Só os Loucos Sabem é uma balada feita com voz e violão.
Apostando em outros caminhos, o líder do Charlie Brown afirma que este é o trabalho mais maduro e coeso do grupo. O quarteto Chorão, Thiago, Heitor e Graveto recebeu O POVO em São Paulo, no hotel Blue Tree Berrini, para entrevista exclusiva na última segunda-feira. Simpáticos e brincalhões, os rapazes falaram sobre as novas diretrizes do grupo e anunciaram que, em breve, lançam também um DVD, homônimo ao álbum, com clipes para as 13 novas faixas. No próximo dia 9, a banda santista já mostra as músicas do novo CD para o público cearense, no Ceará Music.
O POVO - Depois de 12 anos, vocês trocaram de gravadora. Quais as expectativas para essa nova casa?
Chorão - De imediato, a gente já se deu bem com a galera. Isso é primordial para qualquer trampo. O pessoal da Sony é carioca, a gente é uma banda paulista, mas não tem aquela rivalidade entre São Paulo e Rio de Janeiro. A gente é uma banda querida no Rio. Assim que entramos na gravadora, começamos um cronograma para apresentar um primeiro álbum, que seria um disco ao vivo, com duas ou três músicas inéditas. Mas eu tirei um momento para descansar, comecei a perceber várias coisas que vinham se repetindo e quis quebrar com essa rotina. Já quebrei saindo de férias. Depois, nesse período sabático, com a liberdade que a gravadora me deu de time, foi o momento em que eu encontrei esse som novo. Aí a gente começou a fazer música com espontaneidade, com tempo para trabalhar e refazer.
O POVO - É também mais um disco com produção do Rick Bonadio. Ele já é mesmo um parceiro, não é?
Chorão - Sim, parceiro. O Rick é um cara que a gente sempre vai pensar (para produzir discos da banda), não só porque ele foi o cara que lançou a banda, mas também porque ele tira som da banda. Sabe timbrar, dá uns toques legais. Simples, mas legais, como timing de música: um solo que está muito comprido e, às vezes, são preciosismos nossos, ele entra com uma coisa mais madura, com uma visão mais de ``guruzão``. É bacana trabalhar com o cara, ele deixa a gente à vontade no estúdio. Há o momento que a gente escuta, o que a gente fala, e essa democracia é importante para quem faz o disco.
O POVO - Você fala de um som novo para o Charlie Brown Jr. Como foi a composição desse álbum?
Chorão - A gente teve tempo para fazer um álbum. Acho que é um som supermaduro da banda, que está num momento bem legal: não perdeu a identidade em termos de expressão sonora e, ao mesmo tempo, aponta para um caminho totalmente novo. A expectativa era grande, a música (Me Encontra) foi lançada e se saiu muito bem na rádio, foi muito bem aceita pelos fãs e pelo público em geral. É um momento a se aproveitar, porque é muito especial. A banda já tem 10 discos, não é uma novidade, vamos falar sério. Mas ainda é importante na vida de muita gente e continua sólida. Não diria que é uma reinvenção do nosso som, mas uma reciclagem, uma continuidade sem perder a unidade.
O POVO - Você considera o Camisa 10... o disco mais maduro dos últimos anos do grupo. Vocês terem fechado uma nova formação tem a ver com esse momento?
Chorão - Com certeza. A gente está aqui porque quem está é a gente. Thiago é uma peça fundamental na história, um cara que tocou comigo nos primórdios da banda e tem uma facilidade pra criar junto. O Heitor Gomes é filho de baixista (Chico Gomes), tem uma escola mais voltada pro instrumental e está aí, com músicas dele no disco, músicas do Thiago pra caramba no disco. E o (Bruno) Graveto, que chegou há um ano e meio e é o mais ``cabação`` da história (risos). Mas já ``descabaçou`` nesse primeiro disco e acrescentou pra caramba. Tem duas músicas dele já. O moleque tem um style de tocar que empolgou todo mundo e levou a banda para um outro rumo, dentro, claro, do que eu permito se distanciar sem perder o pé.
O POVO - Agora que o disco saiu, vocês estão preparando um DVD. O que os fãs vão poder conferir?
Chorão - É um rolé com a gente pelos lugares que a gente passa. São 13 clipes dessas 13 músicas do disco, é como se fosse a imagem do disco. Nas entrelinhas, as músicas têm comentários de uma galera que cruzou a nossa história em algum momento, gente com quem a gente tocou, bandas gringas como Offspring e Face 2 Face, artistas que eu gosto, pessoas que são desconhecidas, mas que, para mim, são ilustres. Esse DVD tem a ver com isso, com gente que cruzou nossa vida de alguma forma. Está vendo esse menino aí (O DVD mostra o skatista Bruno Penna)? Ele não tem uma perna e anda de skate muito bem, com uma prótese. Ele é muito fã da banda e foi me procurar. Eu botei ele na minha lista de filhos não-genéticos, dei uma prótese de alta performance importada que é vitalícia e apropriada pro esporte. Pessoas assim me fazem crescer, me fazem pensar: um cara que tem uma deficiência e superou, anda de skate e melhor do que eu e que muita gente. Então é isso: tem backstage, aeroporto, viagem, ``nego`` bodeado dormindo, se preparando pra tocar, parando pra admirar o pôr-do-sol, que eu acho uma das coisas mais lindas da vida...
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